16 de outubro de 2007

A HISTÓRIA DO AÇUCAR - Parte final



Século XVI
"Terreno fértil para a cana no Novo Mundo"
Paralelamente, a descoberta do Novo Mundo (América) vai introduzir a viragem derradeira na história da introdução do açúcar nas nossas mesas. Na sua segunda viagem, em 1493, Cristovão Colombo leva consigo alguns exemplares de cana-de-açúcar, oriunda das Canárias, para São Domingos, actual República Dominicana. No continente, a cana vai encontrar excelentes condições para se desenvolver, e não foram precisos muitos anos para que, em praticamente todos os países recém colonizados, os campos se cobrissem de cana-de-açúcar. Os solos eram férteis, o clima o mais adequado e o sucesso foi tal que, por volta de 1584, havia no Brasil cerca de 115 engenhos, funcionando graças ao esforço de 10 000 escravos, que produziam mais de 200.000 arrobas de açúcar por ano, cerca de 3000 toneladas. Em suma, em resultado do incremento da colonização, o Brasil conheceu um rápido desenvolvimento: milhares de colonos, servindo-se de índios, mestiços e escravos africanos, arrotearam terras e expandiram culturas agrícolas (em particular a cana-de-açúcar).
Assim, com o descobrimento da América o açúcar produzido pela rápida difusão da cana-de-açúcar neste novo continente, ainda sob condições pouco desenvolvidas, passou a ser uma mercadoria acessível a todas as camadas sociais.
Seguiu-se uma época de grande prosperidade para a cultura e comercialização deste alimento, protagonizada por Portugueses e Espanhóis, com especial destaque para as plantações no Brasil. A cobiçada especiaria ganhou mesmo honras de metal precioso. Chamavam-lhe o " ouro branco", tal era a fortuna que gerava.
"A acção dos Portugueses no Brasil"
" A riquesa desta terra é principalmente em açúcares (...). Há no Brasil, em cento e cinquenta léguas de costa, de Pernambuco até para lá da Baía, perto de 400 engenhos. (...) Aqui os escravos de África são muito procurados porque os moradores do Brasil têm grande necessidade deles para os seus engenhos (...). E prezam mais um escravo negro do que três do Brasil, que não são tão fortes (...) mas gente branda e frouxa".


Século XVII
" Adoçante de bebidas novas"
A exploração de escravos, que se praticaria desde o século XVI até princípios do século XIX, viabiliza a expansão da indústria do açúcar de uma forma irreversível, com plantações praticamente em todo mundo, desde as Índias Ocidentais às Américas. O uso do açúcar vulgarizou-se, principalmente para adoçar as novas bebidas, também de origem exótica, como o café, o chá e o cacau, o açúcar conhece um maior consumo, embora ainda no currículo restrito das classes abastadas.


Século XIX
" Chega uma nova planta doce: a beterraba"
Apesar do desenvolvimento das técnicas para produção de açúcar mostradas pelos europeus no século XVI, foi somente no século XIX, com a introdução da máquina a vapor, da evaporação, dos cozedores a vácuo e das centrífugas, como reflexo dos avanços
apresentados pela Revolução Industrial, que a produção comercial de açúcar experimentou notáveis desenvolvimentos tecnológicos.
Desta forma, o comércio do açúcar tornou-se bastante lucrativo o que terá preocupado Franceses e Alemães, que se viam a pagar caro um produto que nunca vingaria nas suas terras mais frias. Impulsionado pelo seu governo a investigar outras fontes de sacarose (açúcar vulgar), Andreas Margraff, um químico alemão, obtém os primeiros cristais a partir do suco extraído de raízes de beterraba, em 1747.
Passados cinquenta anos, o discípulo de Margraff, Franz Carl Achard, instala a primeira refinaria de açúcar de beterraba da Europa. O produto não tinha, no entanto, a qualidade desejada e, para além disso, era bastante caro.
Só durante as guerras napoleónicas, devido ao bloqueio britânico e ao consequente racionamento do açúcar, é que a nova indústria teve finalmente oportunidade para se desenvolver e aperfeiçoar. Inicia-se uma guerra entre os importadores do açúcar de cana e os produtores de açúcar de beterraba. A abolição da escravatura vai dar vantagem aos segundos e penalizar os primeiros.
No princípio do século XX, a beterraba vence a cana de forma decisiva, cobrindo 3/5 do consumo mundial. Mais tarde, curiosamente, a balança irá inverter-se com 3/4 da produção de açúcar a serem fornecidos pela antiga cana.


Século XX
" O açúcar no século XX: a abundância"
No início do século XX, o planeta já produzia 9 milhões de toneladas de açúcar e consumia apenas 8 milhões.
Mas a Primeira Guerra Mundial veio travar drasticamente a produção de açúcar. Fruto dos combates, as regiões produtoras são devastadas, assim como as refinarias. Faltando mão-de-obra e matéria-prima para o cultivo da beterraba açucareira , a cana-de-açúcar, produzida longe deste cenário de destruição, conhece algum desenvolvimento até ao fim do conflito.
No pós-guerra, a produção restabelece-se e ganha mesmo maior dinamismo, a tal ponto que, em1920, com o açúcar de cana e de beterraba, o excedente mundial alcança as 4 milhões de toneladas. Como consequência os preços descem e levanta-se a primeira de muitas crises para regulamentar este negócio. Em 1937 é realizado o primeiro acordo internacional para regular o mercado, do qual sai também o primeiro Conselho Internacional do Açúcar.
Em 1953, sob a égide da ONU, assina-se o Acordo Internacional sobre o Açúcar, que estabelece um sistema de quotas de exportação.
Em 1968 cria-se o mercado comum do açúcar, que levou a Comunidade Europeia a tornar-se o primeiro produtor mundial de açúcar de beterraba.


Séc. XXI
"O açúcar no 3º milénio"
Hoje, entre 111 países produtores de açúcar, 73 cultivam cana-de-açúcar e são responsáveis por fornecer 3/4 da produção mundial de açúcar. O maior produtor é o Brasil, seguido pela Índia e por Cuba. O açúcar tornou-se um alimento comum na dieta de todos os países, constituindo uma fonte de energia de fácil e rápida assimilação.
Consumido com moderação contribui para uma dieta equilibrada, proporcionando um sabor agradável aos alimentos. Para além disso, o sabor doce é um dos mais apreciados pelo ser humano, o que torna o açúcar um dos alimentos capazes de oferecer momentos de bem-estar e de prazer.
Portugal tem uma quota de produção de 360 mil toneladas de açúcar por ano, das quais cerca de 275 mil são consumidas.

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